Esse é o primeiro artigo de uma série inspirada em meu TCC de Neuroarquitetura. Explorei o tema da neuroarquitetura em ambientes residenciais, uma abordagem que combina princípios de design e neurociência para criar espaços que não só sejam esteticamente agradáveis, mas que também promovam saúde e bem-estar.
Este artigo inicial destina-se a compartilhar reflexões sobre como a neuroarquitetura pode transformar residências em ambientes mais saudáveis e acolhedores, considerando os efeitos subconscientes do espaço no comportamento humano.
O Papel do Arquiteto e Designer no Projeto Residencial
Projetar espaços residenciais envolve grande responsabilidade, porque os profissionais arquiteto ou designer adentram no íntimo das pessoas, seus sonhos, suas certezas e incertezas, sua segurança e inseguranças. Além disto, o projeto residencial é um projeto que deve ser pensado a longo prazo. A casa deve satisfazer as necessidades e anseios de hoje, sem esquecer das adaptações que poderão vir a ser necessárias num futuro breve ou distante.
Deve-se estar ciente que cada ambiente é um minimundo do usuário e, deve ser flexível, pronto para adaptar-se e evoluir junto com este usuário.
A Casa como Refúgio: A Importância da Flexibilidade
Conforme afirma Pallasmaa, “a função atemporal da arquitetura é criar metáforas existenciais para o corpo e para a vida que concretizem e estruturem nossa existência no mundo. A arquitetura reflete, materializa e torna eternas as ideias e imagens da vida ideal”, por isso a casa é um refúgio onde a pessoa deve, necessariamente, se sentir bem, feliz, relaxada, segura. A casa deve refletir a personalidade do morador, e este deve ter a liberdade de interagir com ela, mudando, inserindo e retirando móveis e objetos, a casa deve ser adaptável a cada fase da vida do morador. E assim, “é evidente que uma arquitetura “que intensifique a vida” deva provocar todos os sentidos simultaneamente e fundir nossa imagem de indivíduos com nossa experiência do mundo”.
Iluminação, Acústica e Conforto
Através do projeto, o profissional arquiteto ou designer de interiores deve proporcionar bem-estar, conforto e saúde ao indivíduo. Estudos de Neuroarquitetura comprovam que o ambiente interfere diretamente na saúde e humor dos usuários. Por exemplo, a iluminação natural deve ser priorizada, mas, não havendo esta possibilidade, através do projeto luminotécnico, o profissional deve proporcionar aos usuários a sensação de conforto e a noção de dia e noite. Equipamentos e lâmpadas existentes no mercado, quando bem aplicadas no ambiente, simulam a luz natural, colaborando para o perfeito estímulo à produção de hormônios, como a melatonina, que regula nosso ciclo circadiano.
Um projeto de qualidade deve proporcionar além de boa iluminação, acústica adequada, ambientes bem dimensionados e com boa ventilação. Ambientes bem planejados são capazes de deixar as pessoas mais saudáveis, confortáveis e felizes. Em contrapartida, ambientes mal projetados podem prejudicar tanto a saúde física como mental dos usuários. Viver em uma casa onde não se tem autonomia e conforto pode ser bem estressante, fazendo com que as pessoas percam o interesse em atividades que antes lhe proporcionavam prazer e alegria.
O Impacto do Ambiente no Comportamento Humano
Necessário que se tenha consciência que diariamente interagimos com diversos estímulos ambientais que provocam pensamentos, emoções e, consequentemente, comportamentos. A busca por entender como as texturas, as cores, a iluminação e demais itens que compõem um ambiente podem afetar o comportamento humano foi o que levou neurocientistas a mergulharem nos estudos da neurociência aplicada à arquitetura, ou, a Neuroarquitetura.
Sabemos que áreas distintas do cérebro são ativadas diante de sensações e percepções provocadas pelo entorno externo. Os estudos da neurociência vêm para nos explicar como e porque isto acontece.
Há muito tempo temos conhecimento que o ambiente construído interfere no comportamento humano. A neurociência, através de métricas e estudos científicos sérios, vem somar esforços no sentido de entender e mensurar estas reações.
A Neuroarquitetura nos traz muitas novas possibilidades para melhor projetar ambientes sensoriais e saudáveis, mas ainda existe o desafio de se encontrar soluções que atendam pessoas distintas que vivem no mesmo espaço construído.